Alguns dias atrás, estava escrevendo umas cenas novas do meu livro quando senti aquilo. Quem já escreveu criativamente sabe bem do que estou falando. De repente você está na ponta da cadeira com os dedos disparando loucamente nas teclas e os pés meio dormentes. Sua respiração fica rápida. Tudo parece que faz sentido. O sentido da vida tá ali na sua frente. Seu corpo responde ao você está escrevendo: aqueles sentimentos se tornam meio seus, aquelas palavras parecem tatuadas na sua pele. Você escreve e é aquilo.
Quando termina você se sente energizado. Nem dá pra ficar muito quieta na cadeira não. Dá uma vontade de fazer mil coisas: mudar o mundo, dar uma faxina na casa e, principalmente, continuar escrevendo aquela história que agora parece o centro do universo. Você nasceu pra escrever! Escrever te dá sentido de existência!
Aí você continua escrevendo, o parágrafo empaca, as palavras não parecem certas. Aquilo se foi e você está de novo sozinho questionando por que você está escrevendo uma linha que seja e não, sei lá, capinando um lote.
Quem nunca?
Nos últimos anos escrever foi difícil. Prazos apertados, o final de um doutorado, minha vida pessoal se refazendo, pandemia. De repente a escrita não tinha mais aquela alegria e aquilo era uma memória distante. Parecia difícil lembrar de algo que sempre foi muito claro durante minha vida: eu amo escrever!
O problema é que às vezes eu esqueço.
E como não esquecer?
Quando eu era criança, andando pra cima e pra baixo em casa com meu caderno da Minnie, a alegria de escrever era muito clara. Quando eu passava horas e horas na minha adolescência escrevendo capítulos longuíssimos de fanfic escrever era a coisa que eu mais amava.
Hoje é difícil desligar as perguntas que ficam rondando, famintas, toda vez que sento no computador para escrever ficção: “Você lembra que da outra vez foi uma trabalheira que não deu em nada?”, “Você não acha que esse tempo todo aí podia ser usado pra escrever um artigo acadêmico que vai te ajudar na sua profissão que paga suas contas?”, “Pra que esse sofrimento todo?”, “Quantas aulas você poderia adiantar nesse meio tempo?”, “E quem vai ler isso aí?”, e talvez, a pior de todas: “Tá lembrada que vai ter que divulgar isso aí depois, né?”.
A vontade é fechar o computador e nunca mais olhar a pasta que tem todos os meus livros e contos.
Mas não dá.
Eu quero escrever de novo. Eu sempre quero.
Do mesmo jeito que algumas pessoas, sei lá, sobem montanha, treinam esgrima, fazem ciclismo no fim de semana, eu amo escrever. E nem sempre aquilo acontece. Na verdade, quase nunca. Mas a vida fica pequena se isso não acontece. Eu sinto que vou perdendo o viço, fico enjoada com tudo, e me lembro que não era à toa que a Melissa adolescente ficava horas escrevendo aqueles capítulos de fanfic. Escrever faz algo comigo. Não sei o que é. Nem sempre é fácil, mas é bom.
Estou tentando resgatar a alegria de escrever pra mim. Sim, eu sei que existe toda uma lógica de um mercado brasileiro complicadíssimo, existe uma ponta de privilégio de ter um outro trabalho que paga minhas contas, tem um marketing digital esmagador que parece inescapável. Mas eu cheguei num ponto que se eu não buscasse algo em mim, nada ia sair, porque o mundo estava me esmagando.
E foi aí que aquilo começou a acontecer de novo.
Foi quando comecei a pensar que a Melissinha do caderno da Minnie e a Melissa fanfiqueira ainda estão aqui em cada palavra que escrevo. E elas são a voz que sempre dizem, baixinho, lá no fundo: “Não para não. Estamos com você.”
E você? Como tá sua relação com a escrita?
Ai que post lindoooo!!!!
Escrever é uma arte incrível, é difícil escolher as palavras para falar o quanto admiro os autores de cada livro que leio.
Também é algo muito difícil, um dos motivos de ter um blog e além dele ter um ig sobre mitologia é que originalmente iria ter uma página de escrita, mas sou do tipo que nunca acha que está bom sabe? Com o tempo acabei mudando para textos de blog mesmo e escrevendo de forma resumida as lendas que tanto amo de mitologia de todo canto. Ainda escrevo por vezes em pastas no pc, mas esses textos ficam só comigo mesmo, me trazem alegria, mas nunca ficam realmente prontos.
Gostei demais de como falou do seu carinho por escrever, te admiro muito e você merece brilhar cada vez mais! ♥
Essa frase do título é tão você que dá até um quentinho no peito de ler e ouvir dentro da minha cabeça com a tua voz hahahaha
(E por que será que eu coloco junto a imagem de você comendo uma colherada de brigadeiro? kkkkkk)
Pois é, quem escreve sabe exatamente qual é a desse momento pilhado que você relatou... A gente sempre volta em busca de mais disso aí.