Na última quarta-feira, 30 de agosto, tivemos uma Lua Azul. Infelizmente o nosso satélite não ficou da cor azul. Esse é só um nome bem descolado para a segunda Lua Cheia de um mês. Um jeito que nós encontramos de fazer o nosso calendário solar fazer sentido com os acontecimentos lunares.
Porque a Lua, veja bem, tem 13 lunações ao longo de um ano. O calendário tem 12 meses. Essa conta não fecha.
Quando nos mudamos para nossa casa atual no interior de Minas, eu e meu marido ficávamos encucados com uma luz que entrava pela nossa janela do quarto de vez em quando à noite. A luz forte nos deixava incomodados e tínhamos que fechar a cortina. Era luz do vizinho? Não. Era poste da Cemig? Não. Era algum holofote de construção noturna? Não. Constatamos, depois de alguns meses, nos sentindo bem idiotas, que era a Lua Cheia, que por volta da meia noite ficava numa posição linda, iluminando diretamente a nossa janela.
Já faz alguns anos que presto atenção na Lua. Durante muito tempo não sabia em que fase ela estava e aí de repente eu me esbarrava com uma linda Lua Cheia ou com aquele sorriso da fase Crescente. Foi um esforço me virar para o calendário lunar, saber que a Lua nasce no leste e se põe no Oeste assim como Sol, prestar atenção nas fases, entender a posição que ela fica ao longo da noite em relação a onde moro.
Esse ano organizei meu planner pela Lua. Então ele começou no dia 21 de janeiro, na primeira lua nova do ano. E assim vou seguindo. É um movimento interessante ver como os meses vão atravessando as fases da lua, escancarando como tudo é arbitrário na nossa forma oficial de organizar o tempo.
O que é um mês, na verdade? É estranho pensar nessa conta. O início do calendário gregoriano, primeiro de janeiro, não tem associação nenhuma com um evento da natureza. Os equinócios e solstícios, que marcam a mudança das estações, costumam ser por volta dos dias 20 a 23. A lua está numa fase diferente a cada início de mês. Um mês tem 30 ou 31 dias enquanto um ciclo da Lua tem por volta de 29. Inclusive, é por isso que o Carnaval acontece em uma data diferente todo ano: a Páscoa é celebrada no primeiro domingo depois da Lua Cheia do Equinócio de Outono (pelo menos aqui no Hemisfério Sul) e o Carnaval acontece 47 dias antes disso.
Nessa Lua Azul vi muita gente no Instagram falando sobre rituais a serem feitos para essa Lua especial, mas fiquei pensando: será que ela é mesmo especial? Só é a segunda Lua Cheia do mês porque inventamos a ideia de mês. Se não fosse isso, seria apenas mais uma Lua Cheia, das treze que temos no ano.
Pra mim faz sentido acompanhar a Lua. Fico pensando nas associações que os povos antigos e atuais mais ligados à natureza fazem com ela e não me parece algo místico ou absurdo, mas sim uma metáfora simples da vida. A Lua começa escura, como nossa vida, no ventre da mãe, vai crescendo, até chegar em sua plenitude onde consegue efetivamente iluminar a Terra. Depois o movimento é de minguar, também como a vida, pois nada pode ser pleno o tempo todo. Enfim, é o retorno à escuridão. E tudo começa outra vez.
Não é à toa que existem tantos mitos sobre a Lua. Ela nos orienta em suas fases, como na colheita, na passagem do tempo. Sua lógica é cíclica: é vida-morte-vida, nada realmente tem um fim, nem um começo, tudo é uma fase, tudo é uma constante mutação. A Lua nos olha de perto do céu. É a testemunha mais direta do que acontece aqui nessa Terra.
Acompanhar a Lua tem me feito sentir mais próxima da natureza. Me fez parar para observar os ciclos que a natureza marca e me fez perceber que sinto falta deles na minha vida. É cliché? É. Mas existe um maravilhamento que eu preciso no meu cotidiano para não sucumbir ao desespero do capitalismo.
No campus onde trabalho, dá pra ver a Lua nascer no céu meio rosa de poeira da mineração de Congonhas. Quando volto à noite, na estrada, consigo vê-la também no cantinho direito da pista. Em casa, grito pro meu marido: olha a Lua! E fico assim, meio besta, de ver que ela ainda ainda está ali, marcando o tempo de uma outra forma.
Desde a última Lua Nova, essas são algumas das coisas que ocupam meu tempo e minha cabeça:
📚 O Céu Não é o Limite: relatos de viagens interestelares saiu! E tem conto meu! Você pode ler “Palavras Insuficientes” e outras histórias incríveis de autores também incríveis da agência Magh aqui. Na edição passada dessa newsletter, eu comentei da minha participação na live Maghnífica onde falo um pouco sobre a história do meu conto e converso com outros autores da coletânea, dentre eles a
.🎵 Continuando minha vibe retorno ao emo, estou ouvindo muito o álbum Three Cheers for Sweet Revenge, do My Chemical Romance. Provavelmente um dos álbuns favoritos da minha adolescência. Eu me surpreendi muito em relembrar como essas músicas são boas, mas também pesadas. Tanto em matéria de som (com muita guitarra distorcida), mas também de conteúdo. Cada faixa é uma história sobre vingança diferente envolvendo todo tipo de motivação em plots bem violentos. Gente, os anos 2000 não eram brincadeira.
🎥 Continuo assistindo os lançamentos semanais da segunda temporada de Foundation, na Apple TV. O ritmo dessa temporada é diferente do da primeira, mas o modo como os roteiristas conseguiram amarrar os protagonistas em uma história que salta séculos a cada parte foi muito bom. Definitivamente eu sou do time dos que amam essa série.