4 Comentários

Vou confessar uma coisa: optei por interromper minha menstruação. Já tentei diversas coisas: absorventes comuns, absorventes de pano, sem absorvente nenhum, mas nenhuma dessas formas acabou com o meu incômodo sensorial (sendo autista, a questão sensorial sempre me afetou muito). Agora que trabalho presencialmente, a questão piorou mais ainda. Antes era basicamente uma trabalhadora autônoma sem férias remuneradas, sem décimo terceiro e sem nenhum benefício, mas pelo menos tinha a escolha de optar por não trabalhar quando estava Menstruada (além de desconforto sensorial e cólicas, sentia muita fadiga). Claro que ganhava ainda menos por isso (recebia por tarefa concluída), mas ganhava tão pouco e devia pra tanta gente que nem fazia diferença pra mim. Meu emprego atual é infinitamente melhor, mas por ser presencial, não dá pra ir sem absorvente, e tenho que trabalhar mesmo menstruada. Eram 10h horas diárias de desconforto. Sem falar na fadiga. Podia tomar uns analgésicos e a cólica até passava, mas a fadiga não. Aí as 9h que já eram tediosas se arrastavam ainda mais devagar enquanto eu trabalhava (ou fingia que trabalhava, porque não tinha jeito). Tendo interrompido a menstruação, me sinto muito melhor. Sem dor, sem desconforto sensorial, sem tédio extra no trabalho, sem ter que deixar o lazer e o descanso de lado (seja porque estou menstruada, seja por ter de pagar pelas horas de improdutividade caso optasse por me ausentar quando estivesse menstruada). Tem gente que me julga por essa decisão, especialmente por um dos efeitos colaterais dos remédios ser engordar (eu já era gorda quando comecei a tomar, então não sei se tive esse efeito colateral). Mas a minha saúde está boa, os meus exames estão em dia, então seguirei com essa decisão enquanto ela for a melhor para mim.

No mais, adorei o seu texto. Temos sim que normalizar falar de menstruar (ou de não menstruar), inclusive para menores de idade, pois em geral menstruamos no começo da adolescência.

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Muito importante seu relato. Obrigada por compartilhar! Também acho que falar de menstruação é também falar da opção por não menstruar e dizer que não há vergonha nisso. Infelizmente, vivemos numa realidade que é muito indigna para quem menstrua. Eu fico pensando que se fôssemos uma sociedade que contemplasse a menstruação, será que não teríamos mais opções de produtos higiênicos para pessoas com os mais variados níveis de incômodo sensorial? Mais pesquisa e divulgação de formas para alívio dos sintomas? Ou mesmo mais opções de interrupção do ciclo menstrual? Fica o questionamento.

E sim, precisamos normalizar a menstruação com menores idade, inclusive crianças. É um processo natural do corpo, afinal.

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Obrigada pela partilha mel. Também estou naqueles dias. E sinto muito forte vários dos pontos que você foi abordando na sua escrita. Eu basicamente tenho muita dificuldade de conciliar o tempo e necessidades do meu corpo com muitas demandas externas, exatamente pela invisibilidade que tem esse processo menstrual. Eu também sou muito sensorial, tenho TDAH e autismo leve. E todos os meus sentidos são impactos nesse momento tbm. E sempre o retorno social é de como o meu corpo estivesse errado ou com algum problema. Mas a organização do patriarcado é do capitalismo não, elas são ótimas. Enfim....adorei ler você

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Coincidentemente - ou não - estou no primeiro dia de menstruação e cai de paraquedas no seu texto! E mulher: que texto! Você conseguiu sintetizar coisas complexas de forma simples e provocativa. Há uns anos estudei sobre menstruação e foi realmente impressionante como minha vida mudou a partir dessa outra forma de relação com o corpo. Tenho sentido o chamado forte de voltar a olhar e suas palavras serviram como incentivo e afago. Obrigada ❤️

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